Dizem que avós são duas
vezes mais pais. Além disso, o meu avô foi o meu anjo protetor e professor por
muito tempo. Por isso, dedico-lhe esta singela homenagem onde transborda
saudades eternas.
Meu avô sempre foi um bom
homem. Carinhoso, inteligente, trabalhador, enfim, um homem que entrou para a
minha significativa história. Trabalhou no garimpo, na terra de suas posses e na importação legal de
fumo quando jovem. Ficou viúvo com cinco filhos para criar e casou-se com minha linda avó. Sempre foi respeitado pela sociedade devido sua
honestidade e luta para oferecer o melhor conforto possível à sua família.
Quando sóbrio mostrava em suas palavras que família consistia em uma união estável, onde prevalescia paz, amor, confraternização, alegria,
solidariedade e humildade. A casa quando encontrava-se cheia não era problema nenhum e sim motivo de muita
alegria. Ensinou a todos os seus filhos o caminho da verdade e os mesmos
praticaram seus ensinamentos.
Quando eu era criança vivia me falando
que menina não brinca com meninos, que deixar de apontar o dedo para conferir
estrelas é bobagem, que menina nunca sobe em árvore e nem brinca de papagaio (pipa). Inumeráveis
vezes subi escondida em árvores e em poucas ocasiões ele me viu. Quando havia o flagra tornava a me avisar, mas nunca
resmungava sem parar devido minha desobediência.
Por diversas vezes algumas pessoas pararam eu e minha mãe na rua para simplesmente nos dizer que
em meu rosto viam traços nítidos do meu avô. Naquela época a minha interpretação sobre tal comentário não
era agradável como atualmente, pois dizia que não gostava de parecer com um homem. Hoje
vejo que além de alguns aspectos físicos tenho certa mentalidade de vida graças
a meu grandioso e inteligente avô.
Lembro-me muito bem quando
eu brincava com os seus bichos de estimação, inclusive os filhotes de cachorro
que sempre criava. Ficava sentado por horas em sua cadeia na sala de recepções
vigiando seu pequeno animal rebolando pelo piso de tão robusto que era. Impossível
esquecer quando o meu velho apareceu imprevisivelmente com um filhote em suas
duas grandes mãos para presentear a mim e minha irmã e Estrela (nome da cadela) até hoje faz parte da nossa
família e nos repassa diariamente grande alegria.
Incontáveis vezes o meu avô
colocou-me em seu colo fazendo-me rir quando me assustava após tocar a sua face
ou seus inesquecíveis cabelos grisalhos médios e macios. Contava-me
incansavelmente muitas histórias de sua vida que muito influenciaram na minha paixão pela
natureza. Durante a noite o céu era o que mais nos impressionava. A Lua, as Três Marias e suas
companheiras, as nuvens, tudo ele me ensinou a ver com outros olhos. Por muitas
vezes o indaguei: Vô vai chover? E nunca errou uma se quer!
Diante de tudo que vivi ao
lado do meu queridíssimo avô percebo que ele foi a razão do meu viver, o motivo
dos meus sorrisos, o rei e o príncipe das minhas histórias. Sei que o levarei em meu coração até o último suspiro que eu der, mesmo que a saudade prevalesça
em meu peito ferindo-me como uma flecha. Como minha tia diz: Só sabemos o que é perda quando perdemos um
dos nossos entes!
✝
10.03.2014